SPFW 25 anos Terceiro Dia

SPFW 25 anos Terceiro Dia

TERCEIRO DIA 06/11/2020

Entre estreias, retornos e alguns protestos assim é terceiro dia da SPFW, comento os principais destaques das marcas que se apresentaram sexta-feira 06/11.

LUCAS LEÃO abre o terceiro dia como uma grande metáfora do que aconteceu em nossas vidas durante a quarentena, o desfile de Lucas Leão se viu limitado ao virtual. “Fizemos todas as roupas fisicamente e depois as digitalizamos”, diz ele. O processo contou com a parceria dos artistas 3D Pepapuke e Bruno Meira, responsáveis pelas imagens que reproduzem algumas das peças de formas amplas e acolchoadas, pelas quais a marca ficou conhecida.

LED “Essa coleção partiu de um processo de enfrentamento à realidade”, diz Célio Dias, nome por trás da LED marca mineira. Em termos práticos, a coleção se desenvolve em cima de códigos já conhecidos da grife: camisetas com mensagens políticas (“uma bicha para presidente” e “abaixo o macho astral”), peças amplas com jeitão street, jeans, um pouco de alfaiataria, outro tanto de camisaria e muito crochê. A LED sempre se posicionou como uma marca LGBTQIA +, conformidades de gênero e conceitos binários não se aplicam aqui.

MISCI Estreante no evento, Airon Martins também levanta bandeiras e propõe a ressignificação de elementos brasileiros ainda que à sua maneira. São estampas de filtro de barro, pontos que lembram aqueles usados no artesanato típico de regiões do nordeste, motivos tipo xilogravura e filetagem, além de algumas texturas de tramas manuais. Tudo isso aplicado em peças de design minimalista, com modelagens afastadas do corpo e caimento quase sempre fluido. Airon deu à coleção o nome de Brasil Impúbere. Impúbere diz respeito àquela fase da vida de transição entre infância e adolescência, antes da puberdade. É um período de incertezas, ingenuidades e impulsos. Lançada em 2018, não seria forçado pensar na Misci exatamente nesta situação.

RENATA BUZZO chega ao line-up do SPFW em nova forma. Seu processo criativo, continua intenso, melancólico e baseado em sentimentos e experiências muito pessoais. A coleção atual nasceu de um texto que escreveu antes da pandemia e batizou de Estudos Melancólicos. “Fala sobre vários gatilhos, solidão, medos, angústias, morte”, explica. “Não sei lidar com perdas, com finitudes terceiras.” Nos últimos meses, ficou claro que pouquíssima gente sabe. O motivo, talvez, seja, justamente, a negação e evitação do assunto. O pesar das palavras que aparecem no vídeo como legenda contrasta diretamente com a poesia romântica das roupas. “É a mentira que vestimos para esconder os hematomas e machucados internos que nos fazem entender nossa existência no mundo.”

JULIANA JABOUR É uma coleção-cápsula em parceria com a label, composta por camisetas, moletons e bonés inspirados nos uniformes de alguns times da Liga Norte-Americana de Baseball. Foi essa collab, em celebração aos 100 anos da New Era, que possibilitou o retorno de Juliana ao SPFW e serviu de mote para a releitura de alguns códigos essenciais de seu próprio estilo: o mix de street com o sportswear, o romantismo com ares vitorianos, os babados, laços, silhuetas esvoaçantes e volumes bufantes. Se engana quem acha que é mais do mesmo. Com tecidos mais encorpados, cartela de cores quase toda em preto e branco, estampas contidas e referências punks dos anos 1980, a marca chega mais madura e em boa sintonia com os desejos de consumo de agora.

HANDRED O primeiro emprego do estilista André Namitala foi em Copacabana. Quando lançou sua marca, a Handred, escolheu o mesmo bairro para sediar seu ateliê. Meses antes da pandemia, mudou sua casa para lá também. Não surpreende, então, que sua mais recente coleção seja uma homenagem a esse endereço histórico do Rio de Janeiro. Entre o calçadão desenhado por Burle Marx, a praia e um estúdio coberto por areia, André revisita o imaginário estético do bairro em propostas ora mais vintage (a alfaiataria dos anos 1940 e 1950 e as referências náuticas), ora mais atuais, como no mix de blazer oversized com bermuda ou nos shapes com leve toque esportivo. O denominador comum são os tecidos de alta qualidade, quase todos de fibras naturais, e os acabamentos e detalhes manuais, como as estampas aquareladas e bordados.

JOÃO PIMENTA Fechando a noite um dos queridinhos dessa coluna. É sobre o sinal dos tempos que fala a coleção de João Pimenta. O ano marcado pela pandemia reflete completamente nas peças da marca homônima, que cobre os modelos com máscaras e luvas, sem deixar nenhuma parte do corpo a mostra. Estes signos representam poeticamente o apelo por segurança e as identidades cobertas em meio a tudo que está acontecido ao redor do planeta. Tudo isso representado através de roupas superdetalhadas com babados, balonês e rufos. As modelagens se alternam entre peças estruturadas e outras fluídas, que são sobrepostas com tecidos de alfaiataria, algodão, lã e reconstruídos com rendas, crochês, tricôs e bordados. “Essa coleção é um resumo de tudo que vivemos nos últimos meses”, diz João Pimenta.

E assim fecha o terceiro dia da SPFW 25 anos.

Créditos: L’officiel, Metrópolis, Vogue, SPFW 25anos.

Fabrício Franco

Fabrício Franco

Moda é se vestir de acordo com o que está em alta. Estilo é ser você mesmo. Abração e até a próxima!

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