Leite que não é leite e pele de frango à venda: seus direitos em meio ao caos econômico e a fome

Leite que não é leite e pele de frango à venda: seus direitos em meio ao caos econômico e a fome

© Vitor Paiva Pele de frango sendo vendida em mercado paulista por 2,99 o quilo

Vitor Paiva – O caos político e econômico e a inflação desenfreada que massacram o brasileiro atualmente podem ser medidos nos mercados não só pelo aumento de preços, mas pela oferta de versões empobrecidas de produtos, bem como pela venda de resíduos e restos, como pele de frango e soro de leite, em lançamentos disputados nos mercados. O Procon se pronunciou sobre alguns dos casos recentemente comentados na imprensa, e a oferta desses produtos foi alvo de críticas intensas nas redes.
A pele de frango foi noticiada sendo vendida a 2,99 o quilo em um supermercado, e o Procon de São Paulo se pronunciou. Segundo Guilherme Farid, diretor executivo do órgão de proteção ao consumidor, apesar de “aviltante”, a prática é legal, contanto que seja feita dentro das normas sanitárias. “Superada a questão técnica sanitária, chega a ser aviltante e desnecessário agir deste modo em busca do lucro até o último centavo”, afirmou o diretor.
“Não tem como fechar os olhos para essa situação no momento que o país atravessa. O recomendável é que o estabelecimento faça a doação, ao invés da venda do produto nessas condições”, disse Farid, lembrando que a empresa tem direito de vender o que quiser, se dentro da categoria, da lei e das determinações de higiene e saúde. O sucesso desse e outros produtos semelhantes, porém, reitera a sensação de “fundo do poço” que muita gente apontou nas redes diante das notícias.
Outros produtos que deveriam ser doados e que devem ser compreendidos como sobras foram encontrados à venda em mercados no Brasil. Carcaça de frango, feijão partido e pontas de frios foram encontrados ofertados a preços mais baixos.

© Vitor PaivaA marca “Cristina” foi notificada por vender soro de leite em embalagem idêntica

O soro de leite, líquido que sobra da produção de queijo, foi registrado em diversos mercado à venda como “Bebida Láctea” pela marca “Cristina”, a cerca de R$ 4,5 o litro, abaixo do preço do leite, que já chega a R$ 10. Nesse caso, porém, o Procon notificou a empresa, pelo fato da embalagem, muito semelhante a do leite, não deixar clara a natureza do produto, que foi registrado sendo vendido na mesma prateleira que o leite real.

© Vitor Paiva – A “Mistura láctea condensada” da Nestlé traz leite, soro e amido

Processo semelhante ocorreu com uma versão “fake” do Leite Condensado lançado recentemente pela Nestlé por preços menores. Intitulado “Mistura láctea condensada de leite, soro de leite e amido”, a embalagem do produto é praticamente idêntica a de um Leite Condensado e, segundo comunicação da empresa, trata-se de uma “alternativa ao leite condensado com menor desembolso para as famílias brasileiras que querem continuar preparando suas receitas sem abrir mão da segurança do resultado e da qualidade”.
Advogados procurados pela imprensa reiteraram que, além de ferir noções éticas e humanas, a prática é também ilegal. Segundo os especialistas, não basta uma inscrição em texto, pois é fundamental que os produtos tenham identidade visual e embalagens realmente diferentes para que os subprodutos não confundam os clientes. “O leite virou soro de leite. O iogurte virou mistura láctea. O pacote de 1kg virou 900g. Tudo diminuiu. O salário, o poder de compra, a qualidade de vida do povo. As únicas coisas que não diminuem são os preços, a inflação, e a fatura do cartão corporativo. O Brasil piorou”, definiu Rafael Parente, em um tweet, o país onde atualmente mais de 30 milhões de pessoas passam fome.

Publicado por Receitas e Bebidas

Redação

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