Com dose de reforço em ritmo lento, Minas vai viver pior transmissão da Covid
Secretário Fábio Baccheretti estima que a transmissão terá pico em duas ou três semanas (Foto: Cristiano Machado/ Imprensa MG/ Divulgação)
Minas Gerais vai vivenciar, até o final de janeiro, um recorde de casos diários de Covid-19 ainda não observado desde o início da pandemia. A alta na transmissão causada pela variante ômicron, que já infectou ao menos 226 pessoas em 30 municípios, deve atingir o pico nas duas próximas semanas e pode trazer de volta restrições de circulação e no comércio e causar um colapso no funcionamento de serviços essenciais. Na contramão do crescimento de diagnósticos positivos para a doença, cerca de 3 milhões de mineiros estão com a dose de reforço da vacina contra o coronavírus atrasada.
Ontem, em entrevista coletiva, o secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, atualizou a situação epidemiológica de Minas, e citou que a explosão de novos casos pode, inclusive, prejudicar a oferta de serviços essenciais, com a necessidade de afastamento de profissionais por infecção pelo coronavírus. “A ômicron vai disseminar tão rápido que os serviços essenciais vão ficar colapsados por tantas pessoas doentes. Serviços de saúde, de transporte público vão ser impactados por números de pacientes sintomáticos que não vão poder conviver”, calculou.
Baccheretti, no entanto, acredita que a elevação da transmissão não deve representar uma alta exponencial nas internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Atualmente, no Estado, a taxa de ocupação dessa modalidade de leitos exclusivos para Covid é 18,78%. Em Belo Horizonte, no entanto, o índice é de 73%. “Iremos ter mais do que 18 mil casos diários (recorde atual em 24h) na próxima semana. Nosso pico vai ser muito alto, sendo muito acima do que vivenciamos no ano passado, mas as internações não vão aumentar de forma drástica”, estimou o secretário.
Com um cenário preocupante, a aposta do Executivo é na ampliação da vacinação e na manutenção do uso de máscaras pela população. Mas o desejo do Estado esbarra na desmobilização da população em relação à busca pela vacina. Balanço da secretaria aponta que 3 milhões de mineiros já poderiam ter tomado a dose de reforço contra a Covid, mas ainda não foram aos postos. “Temos que acabar com o discurso de ser uma vacina experimental. É uma vacina testada em três partes. Quem não tomou vacina, que tome. Quem não tomou reforço, que tome”, pediu Baccheretti.
O diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), Renato Kfouri, reforçou que, mesmo com a ocorrência de transmissão do vírus entre vacinados, os imunizantes disponíveis já demonstraram eficácia em relação às infecções graves do coronavírus. Para isso, ele sugere que as autoridades façam uma busca ativa e aumente a oferta de imunização para chegar às pessoas que estão com a aplicação atrasada. “Continuar mobilizando as pessoas a se vacinar é um fenômeno que a gente sempre encontra quando vai caindo a percepção de risco da população”, analisa.
Estado não descarta restrições
O Governo de Minas não descarta adotar medidas restritivas para conter a alta dos casos de Covid-19. De acordo com o secretário Fábio Baccheretti, todas as regiões ainda estão na onda verde do programa Minas Consciente, que baliza o funcionamento do comércio e serviços, mesmo com a incidência maior de diagnósticos da doença. Conforme o gestor, as restrições poderão ser adotadas caso haja uma pressão sobre o sistema de saúde com o aumento de hospitalizações.
“A incidência já puxou a pontuação para cima no Minas Consciente e a diferença está na ocupação de leitos para precisar de uma medida nova”, alertou o secretário. Caso se tenha alguma restrição, os anúncios devem ocorrer nas próximas semanas. “Se for necessário alguma medida restritiva nós vamos adotar”, garantiu. Um primeiro sinal da adoção de medidas restritivas é a sinalização de que o Campeonato Mineiro, com início em 26 de janeiro, não terá 100% de torcida nos estádios.
O assunto é tratado pela secretaria junto à Federação Mineira de Futebol (FMF). “Grandes públicos não são recomendados neste momento. Estamos conversando e iremos fazer essas primeiras reuniões, observando o decorrer da pandemia”, detalhou Baccheretti. Em BH, o prefeito Alexandre Kalil (PSD) informou que também monitora a situação para definir a capacidade dos estádios.
Publicado por O Tempo